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O senhor Urso entrou no meu carro

Atualizado: 2 de abr.


Imagem 100% gerada por IA

O amigo leitor que já tinha mais de 20 anos no século passado, vai lembrar da história da Cachinhos Dourados, que entra na casa da família Urso, come a comida e deita na cama, deixando tudo desarrumado, vai entender o título do artigo.


Gostaria de contar uma breve história que virou meme aqui em casa, mesmo depois de um bom tempo já passado, hoje ainda a contei novamente, na oficina que cuida do meu carro (por motivos óbvios, ele - o carro - foi o tema!).


Em uma escapada rápida pelo shopping, não lembro o que fomos fazer, deixamos o carro estacionado na rua lateral, agiliza muito a saída nessas ocasiões. Logo que estacionamos, percebemos que tinha um exemplar idêntico - coisa incomum - a duas vagas na frente.


Nesses casos eu costumo dar a volta pelo carro, 'namorar' um pouco, ver se tem os mesmos detalhes que o meu, uma pecinha que não se encontra na internet e fica sem, um detalhe que possa ser digno de uma conversa com o proprietário em algum momento  - mal sabia eu! Era um belo exemplar, preto brilhante, com as rodas limpinhas, mas a 'churrasqueira' do parabrisa estava mais detonada do que a minha.


Eis que após esse breve namorico, entramos no shopping e fizemos o nosso passeio. Detalhe importante: eram mais de oito da noite, todos os gatos são pardos, e eu não aconselho ninguém a deixar o carro na rua a esta hora na capital dos gaúchos.


O fato é que a porta do motorista eventualmente resolve não travar (ou trava de um jeito que só abre por dentro!), juro que não é descuido meu, é um vício do modelo, difícil de resolver, faltam peças no mercado! E eu consegui confirmar isso com o senhor Urso, você vai entender isso muito bem! 


Ao sairmos do shopping, cerca de uma hora depois, dei aquela olhadela para metros a frente e percebi que o nosso irmão gêmeo não estava mais na rua. Logo entramos no carro e percebi que o banco do motorista estava bem mais baixo do que de costume. Aos pés do banco do carona, havia um saco de ração de raças pequenas (não é o nosso caso) e ao olhar para trás, havia um faqueiro daquela marca que você conhece, deitando por mais da metade do banco. 


Não foi a minha surpresa que, ao ligar pra minha enteada que costuma dirigir o carro eventualmente, ela não havia pegado naqueles dias, muito menos teria comprado um faqueiro e uma ração de cachorro pequeno. Então algumas luzes na minha cabeça se acenderam… 

Ao me deparar com aquela situação, percebendo que algo diferente realmente havia ocorrido, só tive uma alternativa: procurar a pessoa que deixou aquelas coisas no meu carro! Como o shopping estava fechando, nada mais poderia ser feito naquela noite.


Eis que na manhã seguinte, iniciei uma saga em busca do Senhor Urso! Na sacola em que estava o faqueiro, não havia nenhuma pista, então liguei para a loja. Para minha surpresa, o gerente lembrou daquele último faqueiro do dia, mas o cliente não fez o cadastro. Essa foi por pouco! 


Ao abrir a sacola onde tinha o saco de ração, percebi que era uma loja que eu costumava comprar, liguei e prontamente fui contando a história. Ao perceber a minha preocupação, a gerente prontamente se dispôs a ajudar, apesar de não ter conseguido nada pelo telefone, me pediu pra ir até o local com a nota que ela iria me ajudar com aquela busca!


Ao chegar na loja, entreguei a nota fiscal, após alguns minutos procurando nos sistemas, ela conseguiu encontrar um cadastro incompleto, onde só havia o primeiro nome e o CPF. Bum!!

Nossas primeiras pistas já estavam na mão! Para minha surpresa era um homem, eu estava errado! Pois tinha total certeza que seria uma mulher que havia saído assustada ao perceber que entrou no carro errado e deixou suas coisas por lá!


Agora a minha característica de pesquisador veio à tona, imbuído de um nome e um CPF, eu precisaria me dedicar um pouco mais para devolver aquelas coisas que achei no carro! Então resolvi usar a ferramenta mais antiga do mundo (brincadeira aqui!).

O Google costuma achar listas, livros, endereços, mas perfilar CPF com o primeiro nome de uma pessoa, achei que seria impossível… para minha (nossa) sorte, apareceu uma lista muito antiga, de quase dez anos atrás, estava lá. O nome completo do Senhor Urso, junto com o CPF dele e uma profissão já desatualizada, mas que me foi muito útil para encontrá-lo!


Com o nome completo fui para as redes sociais, onde pude encontrar apenas uma pessoa com aquele sobrenome bem diferente… Mandei mensagem no privado perguntando claramente:  " - O senhor por acaso perdeu um faqueiro e um saco de ração?". Em menos de um minuto veio a resposta: " - Sim, me roubaram ontem à noite!"


E agora? Passei meu número de telefone e ajeitamos uma ligação, hoje em dia precisa marcar hora pra ligar, algo bem "normal". Mas não para o Senhor Urso, nós dois nascemos no século passado, portanto ligações eram bem comuns naquela época. Ele me ligou e ficamos um bom tempo falando sobre aquele acontecimento… Eu expliquei a minha versão da história e ele caiu na risada! Porque até aquele instante, ele nem havia percebido que tinha entrado NO CARRO ERRADO!


-"Senhor Urso, esse faqueiro é muito bonito!" Falei. Se não vier buscar ele vai ser a atração principal do jantar nesse fim de semana. O saco de ração vou ter que doar, porque as cachorras aqui em casa são um pouco maiores, elas iriam engolir aquela sem mastigar.


O Senhor Urso iria no casamento do seu sobrinho no fim de semana, e às pressas, foi comprar um faqueiro. Aproveitou pra pegar a ração do cachorrinho. Só que ao embarcar no (meu) carro notou que a chave não estava abrindo a porta, o alarme disparou…. notou que não batia o arranque com a chave na ignição!

Também notou outras coisas, mas o fato das pilhas da chave já estarem fracas fez ele trocar rapidamente de direção e, caminhando, atravessou a rua até o outro shopping, onde teria um chaveiro. A parte interessante: ele passou pelo próprio carro e não percebeu, atucanado que estava! O fato do alarme disparar e a chave "não funcionar" fez com que ele quisesse "resolver o problema da chave de uma vez."


Só que ao retornar, após trocar as pilhas da chave (que também é o controle do alarme), ele viu primeiro o PRÓPRIO CARRO, que estava duas vagas à frente do meu. Nem reparou que havia dois carros praticamente idênticos. Logo percebeu que suas coisas não estavam no banco, chegou a perguntar para um rapaz que estava cuidando dos carros ali por perto se não percebeu algum movimento suspeito. Parecia que realmente que o carro estava sendo '’bem cuidado".


Com o avanço da hora, ele não pensou duas vezes, foi embora e deixou pra trás o faqueiro e a ração. Outra hora iria resolver isso. Mas e o desfecho da história?? O Senhor Urso estava muito ocupado naqueles dias, tinha um casamento importante para ir, tinha outras coisas para fazer e não conseguiu buscar o faqueiro. Teve que ir no casamento de mãos abanando… mas não perdeu a oportunidade de contar a história para todos que perguntavam do presente!


Passados quase dez dias e aquele faqueiro parecia tomar conta da casa, ele queria de verdade sair da caixa e ir para a gaveta da cozinha. Mas aguentamos firmemente, pois o Senhor Urso disse que viria buscá-lo. Resolvi ligar novamente e me certificar que estava tudo bem com ele, a frase que ele me disse foi uma excelente justificativa para a pressa de buscar, naquele mesmo dia, o faqueiro do sobrinho:


-"Meu amigo, me desculpe a demora, mas preciso pegar o faqueiro e levar o presente para os noivos (agora casados!)... mais um dia e eu vou ficar com fama de mentiroso lá em casa!"


FIM



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